Por Táta Nganga Kamuxinzela
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Em meio ao feitio de um texto sobre Beelzebuth, como um complemento àquele que escrevi sobre Ashtaroth e que foi publicado originalmente no Ganga: a Quimbanda no Renascer da Magia (Clube de Autores, 2023), recebi algumas perguntas e decidi vir aqui meditar com vocês sobre. As perguntas: i. já que eu trabalho com Lúcifer em minhas invocações, meu Exu será o Exu Lúcifer quando eu me iniciar né? ii. me iniciando na Quimbanda, já poderei levar meus três assentamentos com seus respectivos demônios para eu trabalhar com suas legiões né?
O termo «parcimônia» pode ser traduzido como «menos é mais». Eu estou sempre esclarecendo que a fórmula mágica fundamental da Quimbanda é àquela do espírito tutelar: através da conexão com UM espírito, obtém-se a comunicação com outros espíritos, e o domínio sobre eles. Foi assim com Salomão que através do demônio Ornias obteve acesso aos outros demônios; é assim na Magia Sagrada de Abramelim onde através do Sagrado Anjo Guardião obtém-se domínio sobre uma miríade de demônios; é assim na goécia tradicional do Lemegeton, seguindo o exemplo do próprio Salomão citado acima; é assim na feitiçaria dos Papiros Mágicos Gregos onde através do paredros, o daimon assistente, obtém-se poderes mágicos e a possibilidade de deificação da alma; é assim na teurgia grega onde através do daimon pessoal se realiza proezas taumatúrgicas; é assim na cultura banto onde através do táta (ancestral) se obtém comunicação com os espíritos do Cosmos, os mahambas; é assim na cultura yorùbá onde através do Orí, o òrìṣà pessoal, se obtém acesso aos outros òrìṣà, ìrúnmolè, égún etc. Em resumo, você obtém conhecimento e conversação com UM espírito, se aprofunda nisso de verdade, antes de almejar comandar uma legião de espíritos.
Quando iniciado na família Cova de Cipriano Feiticeiro você recebe APENAS o fundamento de seu Exu tutelar e as instruções para cultuá-lo, sem nenhum demônio atrelado a ele, porque isso é para os Mestres aprontados. Ao pleitear admissão a Quimbanda, certifique-se de abandonar seus delírios de grandeza, porque se não o fizer, a Faca de Exu vai decepar tais delírios a força. E vai doer...
Assim como a alma precisa do corpo para experienciar, agir e compreender o que se passa no Mundo, sem o qual ela não conseguiria nada inferir, de igual modo um espírito também precisa de um corpo para agir no Mundo. Você já viu culto de santos católicos sem imagem? Você sabia que quando a Igreja Católica instituiu o culto aos santos para suplantar o culto grego aos heróis, suas imagens eram preparadas com seus restos mortais? Os cristãos aprenderam com necromantes romanos a técnica da vivificação de imagens associadas a partes dos corpos dos santos. Para que «qualquer tipo de força» espiritual atue no Mundo ela precisa ter corpo material, porque ele se tornará uma zona de poder que construirá uma ponte ou acesso à força que se deseja trabalhar. Sua construção, manutenção e vivificação necessita, portanto, de base material retirada dos três reinos: mineral, vegetal e animal.
O processo de iniciação na Quimbanda envolve uma intricada operação de magia onde um Exu ganha um corpo material, seu assentamento ou fundamento, a nganga do Exu. É através desse corpo material que o Exu atuará no Mundo. A fórmula mágica do Exu tutelar na Quimbanda que a tanto tempo venho falando exige que o Adepto leve para dentro de sua vida o Exu tutelar, que passa a agir diretamente nela, impactando todos os seus setores: amor, saúde, finanças, espiritualidade etc.
A iniciação na Quimbanda é
um passo importante porque exige responsabilidade e comprometimento, ao risco de
seu próprio prejuízo na comunicação com UM espírito. Existe um método de
desenvolvimento gradual, que norteia a caminhada de um kimbanda da
iniciação a maestria.