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DAS VESTES DA BOA FILHA DA MACUMBA



Por Táta Nganga Kilumbu

@quimbandamarabo | @tatakamuxinzela | covadecipriano | @quimbandanago

 

É necessário considerar que nos dias atuais, muito do que se fala de Quimbanda nas redes sociais, do que se entende sobre o culto, em realidade não expressa a totalidade e muito menos o escopo dos fundamentos presentes em todas as vertentes. Esse mal entendido tem ocorrido devido a expressão e mecanização de algumas vertentes modernas, as quais por meios literários e por palestras on-line, acabaram ganhando notoriedade e robusta expressão popular. Uma dessas vertentes modernas é a Quimbanda Luciferiana, uma vertente derivada da terceira onda de manifestação do culto, como mencionei na última edição da Revista Nganga. E confundindo as práticas da Quimbanda Luciferiana como inerentes à todas as vertentes, muitos costumes dela foram adotados por sacerdotes de outras vertentes, assim como algumas de suas crenças satanistas, luciferianas e anticósmicas, o que descaracterizou muitas das vertentes de segunda onda de manifestação do culto. Todavia, essa visão luciferiana, satanista e anticósmica não está inserida nas vertentes derivadas do tronco tradicional de Quimbanda, aquelas nascidas de primeira onda como a Nàgô, Malê e Mussurumim. 

A ideia de um Maioral e de Exus de natureza anticósmica – e o que sabemos é que tradicionalmente ocorre o oposto, ou seja, os Exus são pró-cósmicos – trata-se de uma interpretação moderna derivada do satanismo e luciferianismo anticósmicos, e não vêm do tronco da tradição; assim como o uso exclusivo de vestes negras para os rituais, outra inserção moderna no culto. Em verdade não existe essa regra nas vertentes tradicionais da Quimbanda; é a partir da Quimbanda Luciferiana que essa ideia começou a ser disseminada. Os antigos kimbandas utilizavam roupas rubras e/ou negras nos ritos de Exu, assim como também outras cores, como tecidos estampados, os quais refletem as africanidades do culto, assim como refletem também a natureza plural dos espíritos da Quimbanda; afinal, observe o brajá dos reinos e suas respectivas cores; você não verá dupla dominante de vermelho e preto apenas. Essas são as cores de um reino apenas. Outros até mesmo ficavam de branco, isso mesmo, branco não é pertença de culto algum, e quem pensa assim, pensa pequeno. Uma cor intimamente ligada ao Reino das Almas, onde veremos miríades de espíritos que trabalham este cromo. Em verdade, era comum ver os kimbandas utilizando suas roupas comuns ou de gala em seus ritos, as quais eram substituídas após a possessão do espírito. Mas, assim como a nós cabem todas as cores, por que não usarmos a cor negra que reflete a força material dominada pelo Chefe Império Maioral? 

Vamos conhecer Quimbanda, separar seus momentos, separar suas formações e suas ideias. Ideias novas não mudam práticas antigas, como diz o ditado baiano orelha não passa a cabeça.

 




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