Por Táta Nganga Kamuxinzela
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Todas as práticas derivadas do que se conveniou chamar de Ocultismo moderno são reconstruções, e na grande maioria das vezes baseadas em tradição literária apenas. É uma prática cultural do Ocidente buscar sabedoria em livros, em bibliotecas. Quantos não foram os grimórios descobertos por ocultistas em bibliotecas ou acervos particulares e que acabaram por influenciar até a criação de ordens secretas? Alguém pensou no nome Ordem Hermética da Aurora Dourada, dentre as muitas?
Tudo no Ocultismo moderno é «banda de casa». São adeptos imersos em estudos que por aptidão inata têm colocado em prática àquilo que aprendem em livros. E assim tem se desenvolvido a Tradição Esotérica do Ocidente. Ordens iniciáticas, colegiado de magistas etc. inspirados no que se conveniou chamar de «tradição literária».
A tradição literária que alimenta o Ocultismo moderno, por outro lado, tem sido fortemente influenciada pela mudança no paradigma mágico do Ocidente: a salubrização da magia, a erradicação de suas raízes ancoradas na religiosidade do Mundo Antigo. A partir do Renascimento e do Iluminismo, o conhecimento mágico do Mundo Antigo começa a ganhar uma reinterpretação, baseada em valores culturais cristãos e cientificistas. Então práticas como sacrifício, transe, êxtase ou a convocação de demônios começou a tomar tons de incredulidade e fetichismo primitivo, renegadas ao que se conveniou também chamar de baixa magia ou magia negra.
Então a prática comum dos ocultistas modernos, inspirada na salubrização mágica iniciada pelo Renascimento e continuada pelo Iluminismo, dentro do que se estabeleceu como o renascer da magia a partir do fim do Séc. XIX, perdeu os laços ancestrais que a conectavam com os arcanos mágicos da Antiguidade. Estes arcanos mágicos se mantiveram vivos, por outro lado, nas tradições de Cabalá Crioula e àquelas derivadas delas na diáspora africana nas Américas.
Nos últimos vinte anos tem ganhado força um movimento de renascimento da magia dos grimórios, que busca alternativas fora do padrão convencional como os estados de transe associados a prática mágica. Tradições de Cabalá Crioula como Vodu, Palo, Santeria e Quimbanda, práticas espirituais do Novo Mundo, têm contribuído muito para este reavivamento mágico, porque elas dissolvem as complicadas teorizações e especulações herméticas em um exercício de feitiçaria simples. Então ficou mais fácil operar magicamente com anjos, demônios ou espíritos olímpicos a partir das profundas contribuições dessas tradições.
É este o conhecimento sobre o qual eu me debruço nos meus dois últimos livros: o segundo volume do Daimonium e o Ganga: a Quimbanda no Renascer da Magia: como levar os arcanos mágicos da Quimbanda para a convocação de demônios diversos e potencias celestes como desenvolvidos por grimórios como o Heptameron, o Grimorium Verum, o Grimório de Armadel, o Grand Grimoire, o Lemegeton, o Arbatel, a Chave de Salomão, o Livro da Magia Sagrada de Abramelin o Mago etc. Através das tecnologias mágicas da Quimbanda associada a magia dos grimórios é possível convocar os espíritos olímpicos ou os demônios da goécia de maneira mais simples, rápida e com efeitos taumatúrgicos reais.
A esse movimento de revitalização
da magia cerimonial através dos arcanos da Cabalá Crioula, dá-se o nome de a nova síntese da magia, inaugurada em 1950
pelo ocultista brasileiro Aluízio Fontenele (1913-1952).