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Por Táta Nganga Kamuxinzela

@tatakamuxinzela | @covadecipriano | @quimbandanago 

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Antes do primeiro não vem ninguém.

Desde tempos imemoriais o homem entendeu que sacrifícios propiciatórios aos deuses, deidades e entidades diversas tratava-se de um ofício sagrado. Os homens então sistematizaram estruturas através das quais foi possível se comunicar com os espíritos e embora inspirados por comunicações com eles, foram os próprios homens que criaram e organizaram os sistemas mágico-religiosos. Tem sido assim até os dias de hoje: o homem em comunicação com os espíritos organiza e sistematiza os métodos pelos quais os espíritos são acessados por outros homens. Não é diferente na Quimbanda, que se define como um conjunto de práticas sistematizadas, transmitidas por mestres e repetidas por discípulos, através das quais é possível se comunicar com Exu. 

É no mínimo uma ingenuidade, senão burrice mesmo, perguntar: que Exu conferiu a primeira mão de faca ao primeiro kimbanda? O primeiro kimbanda não recebeu mão de faca de Exu nenhum. Antes do primeiro não vem ninguém! O primeiro é àquele que tanto inicia quanto cria as regras. Os outros vêm depois dele. E foi o primeiro que conferiu a mão de faca ao segundo. Quimbanda é tradição, tem regras, graus iniciáticos e hierarquia. Se você está fora disso, então você está fora da Quimbanda. A tradição é transmitida por um mestre. Se você diz que teu Exu te iniciou na Quimbanda, você é um farsante! Veja os textos Fui iniciado pelo meu Exu, e agora?, A transmissão da Corrente Mágica da Quimbanda e Dos processos iniciáticos na Quimbanda.

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Quimbanda é tradição. 

Quimbanda é tradição. Tradição é, em todo o tempo e espaço, transmissão. Para possuir é preciso receber de alguém, em vida, encarnado na matéria, que tenha. Quimbanda é tradição formada e formulada por homens em sincronia com espíritos. É o vivo, a alma encarnada, quem transmite o àṣẹ da Quimbanda. Não existe isso de Exu ou Pombagira conferir autoridade ou autorização de Mão de Faca, fundamentação de culto etc. Isso se recebe das mãos de um táta-nganga. Fuja de locais com essa estorinha e conversa fiada de Quimbanda recebida/transmitida por espíritos. Para ser Quimbanda você deve receber de um táta que irá lhe transmitir o àṣẹ, organizar e montar seus assentamentos e demais fundamentos de culto. 

Dentro de uma tradição viva não existe a ideia de autoiniciação. (Veja o texto Dos processos iniciáticos na Quimbanda.) Ao ser iniciado na Quimbanda o adepto recebe seu assentamento organizado e configurado das mãos de um táta-nganga. Pegar informações sobre o que vai dentro de um assentamento e confeccioná-lo sem as mãos e o àṣẹ de um táta, não configura, em tempo algum, iniciação na Quimbanda. Para ser da Quimbanda você precisa receber a Quimbanda. 

Tradição espiritual é todo sistema de crenças e práticas mágicas/místicas codificadas e que possibilitam acesso a criaturas espirituais diversas com segurança; no caso da Quimbanda, os Exus e Pombagiras. Todo sistema de práticas religiosas codificadas sofre inúmeras mudanças no curso do seu desenvolvimento e maturação. Isso ocorre porque são os homens - em alianças com espíritos - que codificam e dão estrutura ao sistema, não os espíritos. Isso significa que são os homens, os codificadores do sistema, que o transmitem a outros que, depois deles, também serão transmissores. Uma coisa é ter um culto pessoal e fazer um trabalho sacerdotal ajudando pessoas, o que é genuíno, digno e deve ser incentivado, porque a espiritualidade é livre. Outra coisa é participar de uma tradição, quer dizer, i. ser aceito por um mestre do culto; ii. ter instrução pessoal e treinamento magístico por meio de um mestre do culto; iii. crescer hierarquicamente no culto através de conduta honrosa e leal; iv. por fim tornar-se um mestre e transmissor do culto. 

Não existe isso do primeiro Exu ter transmitido Mão de Faca a alguém. Quem inventou essa estorinha está ENGANANDO ou está sendo ENGANADO. Como sistema codificado de práticas, como tradição, a Quimbanda só é TRANSMITIDA pelos táta-nganga do culto.

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A Faca de Obrigação. 

A Quimbanda é o Culto da Faca. Em muitas circunstâncias os fundamentos dos do àṣẹ de faca são transmitidos como medicinas mágicas aos kimbandas iniciados, que carregados com esse «poder» agregado as suas almas, não apenas se graduam na hierarquia espiritual da Quimbanda, mas superam obstáculos na sua jornada espiritual e secular. Para nós zeladores da Quimbanda, a necromancia tradicional brasileira, é uma honra chancelar a alma de um kimbanda com a «mão de faca». 

A «faca de obrigação» é a primeira faca que um kimbanda recebe após o feitio do assentamento de seu Exu tutelar. Ela é consagrada ao Exu de coroa e é considerada a sua arma mágica principal. Todas as facas que o kimbanda tiver a honra de receber, a «faca de abertura», a «faca preta», a «faca de kiumba», a «a faca de carrego» etc., estão submetidas a «faca de obrigação».

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A Mão de Faca.

Quimbanda é tradição! 

Tradição é, em todo o tempo e espaço, preservação, continuidade e transmissão. Para possuir é preciso receber de alguém, em vida, encarnado na matéria, que tenha para dar. Quimbanda é tradição formada e formulada por homens em sincronia com espíritos. É o vivo, a alma encarnada, quem pensa, estrutura e transmite o àṣẹ da Quimbanda, não os Exus. Quando você busca se iniciar na Quimbanda é um homem, o Mestre de Quimbanda, não o Exu, que você busca. É o Mestre, fundamentado e aprontado por outro Mestre, o possuidor das chaves e códigos de acesso ao culto. 

Não existe isso de Exu ou Pombagira conferir autoridade ou autorização de Mão de Faca, iniciação, fundamentação de culto etc. Isso se recebe das mãos de um táta-nganga, um Mestre de Quimbanda. Fuja de locais com essa estorinha e conversa fiada de Quimbanda recebida por espíritos. Para ser Quimbanda você deve receber de um táta que irá lhe transmitir o àṣẹ, organizar e montar seus assentamentos e demais fundamentois de culto. A mão de faca na Quimbanda é uma autorização e autoridade sacerdotal conferida por um Mestre de Quimbanda a um kimbanda iniciado. 

Na Quimbanda homem e espírito se encontram em uma encruzilhada de poder, a incorporação mediúnica, onde o Exu transmite ao kimbanda suas virtudes (àṣẹ)! O Exu depende do homem para vir em terra trazer o seu àṣẹ. Tentar tirar o homem da equação, deslegitimar sua importância no culto, é coisa de gente BURRA! São os «Macacos de Thoth», porque emulam conhecer, mas desconhecem os fundamentos!

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Exu: a Faca e a Palavra.

Quando um Mestre de Quimbanda orienta novos kimbandas que recebem a «Mão de Faca» ou «Mão de Corte», quer dizer, a autoridade e autorização para imolar animais em obrigações de Exu e Pombagira, ênfase é dada na sábia manipulação da faca e no manejo da palavra: os dois dão direção ao moyo (a força de vida) que o kimbanda procura manipular e projetar. 

Eu abordei os dois temas no meu livro Daemonium (Vol. 2) e eles são recorrentes em minhas postagens, vídeos, artigos no site e na Revista Nganga. O uso da faca e da palavra na Quimbanda está diretamente associado à ideia de «honra». Uma palavra desprovida de honra não tem força, estabilidade ou propósito e, portanto, não cria ou mesmo destrói. De igual modo, a manipulação indevida da faca é uma ação desonrosa que profana a imolação ritual. 

No curso de desenvolvimento na Quimbanda o médium compreende que Exu é faca e que para lidar com ele a palavra tem de ser «reta», carregada com honra e com verdade. E nisso reside o segredo de qualquer tipo de pacto que se estabeleça com Exu, seja no contexto da iniciação, seja no compromisso assumido com um consulente. Quebrar um compromisso com Exu, seja por falta de maturidade ou estabilidade emocional, seja por desonra e traição, seja por inabilidade etc., pode causar danos terríveis e irreversíveis na ancestralidade. 

Antes de se comprometer com Exu, seja no pacto da iniciação ou em algum compromisso de trabalho e troca, lembre-se que a faca corta, fura e mata, que a palavra destrói, amaldiçoa por gerações e condena a miséria.