Por Táta Nganga
Kamuxinzela
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Uma das críticas que mais recebemos – e com muito prazer o fazemos, porque o quão mais ignorantes forem os críticos acerca dos arcanos e mistérios da cabalá crioula que aqui transmitimos, melhor – é sobre a djina que utilizamos. Eles dizem: ninguém entende o que estes nomes querem dizer! Mas adivinha: esse é o objetivo; não é para ninguém entender! O choro – ou rezo – dos críticos para nós é um bálsamo norteador: caminhamos na direção correta.
Na cultura banto e nas tradições afro-diaspóricas relacionadas ao povo do Congo e de Angola, a djina (também escrito como djiná ou nzila ya djina) refere-se a um conceito que pode ser traduzido como destino, essência espiritual ou caminho de vida predestinado. Esse termo está associado à força vital e espiritual que define a jornada e os propósitos de uma pessoa durante sua existência, conectando-a aos ancestrais e ao plano divino, o Submundo.
A djina é frequentemente entendida como a assinatura espiritual de um indivíduo, um aspecto essencial que determina não apenas sua trajetória no reino da geração, mas também suas responsabilidades espirituais e morais. O conceito de djina, portanto, está profundamente vinculado às tradições de reverência aos ancestrais (bakulu ou nkisi), que são vistos como os guardiões desse destino e orientadores no cumprimento do propósito de vida. Na prática, honrar o djina é buscar equilíbrio com os princípios cósmicos, viver em harmonia com a comunidade, e cultivar uma conexão contínua com os guias espirituais.
A djina também está relacionada a ideia de caminhos espirituais, sendo representada como a trilha iniciática que cada pessoa deve percorrer. Esse entendimento influenciou diversas práticas religiosas da diáspora africana nas américas, como a Umbanda e a Quimbanda, onde a ideia de um destino conectado aos espíritis ancestrais reflete a mesma essência do conceito original de djina na cultura banto.
Em muitas tradições afro-diaspóricas de cabalá crioula, a djina pode ser revelada ou reforçada através de rituais, iniciações e consultas espirituais. Na Cova de Cipriano Feiticeiro a djina é recebida no ato da iniciação, e reforçada ritualmente na ocasião do sacerdócio, quando o kimbanda torna-se um nganga, e na ocasião do aprontamento de mestre, quando o nganga torna-se um táta-nganga.
Na nossa família, e assim nós recebemos instrução de boca a ouvidos de nosso superior no culto, a djina é criptografada. A criptografia associada a tradição da magia tem longa data e trata-se da transmissão de informação magística por meios secretos. É um tipo de escrita secreta ou steganographia, a partir das raízes gregas stega, que significa ocultar, esconder ou cobrir, e grapho, que significa escrever. Então aos críticos, Stephen Skinner tem algo a dizer para vocês:
Em vez de tentar,
inutilmente, separar a criptografia da feitiçaria [...], devemos reconhecer que
a criptografia era uma parte integral da feitiçaria. As enormes tabelas
elaboradas por Dr. John Dee, em imitação [as] de Tritêmio e Agrippa, foram
projetadas para serem usadas na derivação de nomes de espíritos e anjos
poderosos e evocáveis. O uso dessas tabelas para escrever cartas a espiões ou
potentados era menos importante em comparação com este propósito [magístico] principal,
especialmente para [John] Dee. [...] Por muitos séculos, informações foram
escondidas em textos codificados, e a criptografia tem desempenhado um papel
central, não apenas na guerra e espionagem, mas agora nas transmissões diárias
de informações, como compras online, bancos, criptomoedas e a própria estrutura
e comportamento da internet.[1]
A criptografia ou escrita secreta associada
a djina está profundamente enraizada nas concepções culturais banto acerca
da importância do nome de um indivíduo, porque ele completa o conjunto
de elementos constitutivos do ser humano. O nome individualiza o sujeito no
grupo, na comunidade, mostrando sua origem, sua atividade e sua realidade.
Para os bantos, portanto, dar nome a alguém ou conhecer o seu nome secreto,
i.e. sua djina, equivale a descobrir sua natureza. Quem conhece o
verdadeiro nome de uma pessoa pode influenciá-la e dominá-la, atuando sobre sua
essência. Como a Quimbanda – cujo pano de fundo cosmológico vem da cultura
banto – é um sistema prático de magia, significando que ela pensa o Cosmos na
forma de interações e influências mágicas, não é auspicioso que alguém conheça o
nome mágico de um adepto. Por causa disso ele é criptografado para que ninguém
tenha conhecimento acerca da atividade e dos caminhos – representados pela djina
– de um kimbanda.