Por
Táta Nganga Kilumbu
@quimbandamarabo | @tatakilumbu | @kimbandamarabo.oficial
No decorrer de nossos estudos, e das falas dos sacerdotes dos cultos de Exu e Pombagira, isso incluindo até mesmo aqueles cultos que não são Quimbanda, como a Umbanda, o Catimbó, o Candomblé, são tantas as visões e informações que se passam do Povo de Exu que em dado momento, alguns se perdem, esquecendo-se que antes de tudo, o espírito Exu é um ancestral que exerce um trabalho espiritual de ajuda no processo de deificação da alma do kimbanda.
A ideia de que os Espíritos Gangas seriam apenas guardiões da «Lei e Justiça Divinas», ajudou a deturpar o processo de entendimento sobre os mesmos, onde são destituídos de sua atividade natural (energeia) como deuses do Submundo (theos-chthonius) a nível religioso, alocados a partir daí em posições hierárquias inferiores. Esse este mitologema umbandista se espalhou pelos cultos afros onde Exu passa a ter o poder de guardar, de manter o equilíbrio dos ambientes ou pessoas, e sua disposição é de um mero vigia, um segurança, um policial, como muitas vezes são comparados, e não como um administrador de um chão de macumba, como uma alma divinizada e glorificada no Inferno, regente de um Reinado; não como uma divindade terrestre que tenha evolução espiritual e mental para dirigir um chão de macumba. Isso chega a embrulhar o estômago de qualquer kimbanda, pois sabemos que não é assim que funciona na Quimbanda e, em verdade, nunca foi.
Em outros cultos, os Exus são mantidos da maneira como ensinado por Matta e Silva, onde são alocados como servidores de Caboclos, Ibeijadas, Pretos Velhos e/ou òrìṣà, tendo suas funções relacionadas aos choques reativos e ativos dessas linhas. Enfim, tudo se inicia quando a Umbanda branca começa se solidificar como religião, em que os espíritos da Macumba não aceitos no trabalho umbandista kardecista, são taxados todos como Exus, mas não puramente como espíritos Exus, pelo contrário, classificam esses seres espirituais como seres exunizados, uma forma no linguajar destes religiosos para chamar estes espíritos de almas atrasadas, ou mesmo, de demônios disfarçados de entidades, como no sincretismo demoníaco com os Exus tão presente nas obras das décadas de 1940-1970, onde veremos N.A. Molina, Aluísio Fontenelle, José Maria Bittencourt, entre outros fazendo.
E nesse processo todo de informações, dentro de muitos cultos se desenvolvem ideias sobre Exus que no fundo são em sua maioria míticas. Exu é Diabo? Sim, os Exus o são, mas todavia, eles não são espíritos inferiores que se disfarçam de entidades. Eles são diabos, pelo seu papel opositor, rebelde, pela sua maneira de ser e agir, sem se rebaixar pra ninguém; Exu é o diabo porque ele prova que na maneira dele o homem se diviniza, ascende ao equilíbrio e manifestação de uma divindade. Mas deixamos claro que isso se manifesta de forma diferente dentro da Quimbanda Malê, onde sim, os espíritos assentados, cultuados, são sim demônios ou djinns da magia salomônica árabe.
Todavia, nunca poderemos esquecer que Exu, Pombagira, Caboclo e Pretos Kimbandas, são em sua maioria almas humanas divinizadas, que estão conectados ao kimbanda pelo viés amplo da ancestralidade: podem ser ancestrais familiares, podem ser de outras encarnações, podem ser de uma região ou de um grupo de pessoas ou culto; porque dizer que todo Exu é seu antepassado consanguíneo beira o romantismo. Quando se coloca Exu nessa posição de ser um ancestral consanguíneo, carne de sua carne, sangue de seu sangue, osso do seu osso, devemos compreender o sentido mágico-ancestral que envolve tal afirmação.
Como Mestres de Quimbanda, ao buscarmos na ancestralidade de uma pessoa um antepassado consanguíneo para se tornar Exu na grande horda de Maioral, pode ser que encontremos apenas espíritos altamente cristianizados, como uma família de evangélicos fanáticos. Será que um tal antepassado dentro desta família desejaria ser chamado e passar a atuar como um Exu no Reinado de Maioral, como um agente mágico universal que não responde a moral cristã? É claro que não! É por isso que muitas vezes não encontramos um Exu dentro da linha ancestral de antepassados de um candidato a Quimbanda. Neste caso, seu Exu tutelar não será um antepassado. Um antepassado como este que acabei de descrever, via de regra, procurará encaminhar seus descendentes para as sendas do cristianismo, não da feitiçaria da Quimbanda.
Então Exu é Diabo, é
espírito ancestral intermediário, mas não significa que é seu parente direto. Às
vezes pode ser, mas muitas vezes pode não ser...