ENTREVISTA VIA ITÁLIA:
Por Táta Nganga
Kamuxinzela
@tatakamuxinzela | @covadecipriano | @quimbandanago
O que segue são as minhas respostas para uma entrevista no YouTube via Itália, canal da La Societa ‘dello Zolfo (@la_societa_dello_zolfo), dia seis de junho de 2024, disponível na íntegra no canal. O objetivo da entrevista foi apresentar a Quimbanda para ocultistas italianos (e europeus de modo geral). Como as perguntas são relevantes também para um público brasileiro, decidi fazer uma versão escrita das respostas, completando a entrevista para o YouTube com detalhes que não me aprofundei ao vivo.
Vou dividir toda a entrevista em postagens
individuais para cada pergunta no blog. O propósito disso é criar postagens com
textos pequenos ao invés de uma postagem apenas com o texto extenso, com mais
de 40 laudas.
7. Existe uma iniciação na Quimbanda? E quantos graus há na estrutura religiosa/iniciatória antes de se tornar um Tata? Existem diferentes vertentes? Por exemplo, a sua é chamada Quimbanda Nàgô, certo?
Na resposta 5 acima falei que a jornada de um kimbanda se inicia através de um rito iniciatório, dirigido por um táta-nganga na presença de outros iniciados no culto. E que a Iniciação segue a fórmula mágica do espírito tutelar, universalmente dividida em quatro etapas: noviço, adepto ou iniciado, sacerdote e mestre.
Existem sim diferentes vertentes de Quimbanda. Essas vertentes, também chamadas de ramas, são classificadas por nós no que chamamos de três ondas de manifestação das vertentes. No texto Iniciação na Quimbanda Nàgô esclareço com detalhes:
A Quimbanda é um culto
ctônico-nigromântico brasileiro; trata-se da genuína feitiçaria nigromântica
nascida e desenvolvida em território brasileiro a partir da ancestralidade
miscigenada de três povos ou culturas, isoladas e segregadas no contexto da diáspora
nas Américas: os africanos (bantos e yorùbás), os europeus e os
aborígenes ameríndios, em dois momentos ou fases distintas: i. do
período colonial até 1950, a primeira fase e; ii. de 1950 até os dias de
hoje, a segunda fase. A Quimbanda nasce, portanto, do entrecruzamento
mágico da religiosidade e ancestralidade dessas três correntes no que se
definiu como cultura afro-brasileira.
Após a síntese de Aluízio
Fontenelle inicia-se a segunda fase da Quimbanda no Brasil, marcada pelo
nascimento de inúmeras vertentes, que surgiram também em três momentos e
contextos culturais diferentes.
Vertentes de Primeira Onda (1950-1970):
As chamadas vertentes
tradicionais são àquelas que derivam do tronco tradicional de
Quimbanda, e são derivadas diretas da síntese promulgada por Aluízio Fontenelle
na década de 1950, quando os Exus da Macumba carioca foram «definitivamente»
sincretizados com os demônios (i.e. espíritos ctônicos) do Grimorium Verum,
um manual franco-italiano de feitiçaria fáustico-diabólica do Séc. XVIII. São
as vertentes de primeira onda as mais antigas e, portanto, as
genuinamente tradicionais: Quimbanda Nàgô, Quimbanda Mussurumin, Quimbanda
Malê, Quimbanda de Almas etc.
Vertentes de Segunda Onda (1970-1990):
Com a expansão das
vertentes tradicionais nascidas da Macumba carioca na região Sudeste do Brasil,
começaram a aparecer as vertentes derivadas dos Candomblés baianos e o Batuque
gaúcho. São as vertentes de segunda onda: Quimbanda de Angola e
Almas, Quimbanda de Cruzeiro e Almas, Quimbanda de Mussifin, Quimbanda de
Angola etc.
Vertentes de Terceira Onda (2000-2020):
São as vertentes novas,
que flertam com a magia-psiúrgica moderna, derivada direta do renascer da magia
que ocorreu a partir da escola inglesa de magia em 1875, e tradições
reconstrucionistas contemporâneas como o luciferianismo, thelema e o satanismo
brasileiro que operava nas penitenciárias de São Paulo na década de 1990. São
as vertentes de terceira onda: Quimbanda Xambá, Quimbanda
Luciferiana, Quimbanda Kongo, Quimbanda Kongo-Luciferiana etc.