Carregando...
A MAGIA DA QUIMBANDA #5: INÍCIO DA JORNADA NA QUIMBANDA

ENTREVISTA VIA ITÁLIA:


 Por Táta Nganga Kamuxinzela

@tatakamuxinzela | @covadecipriano | @quimbandanago 

 

O que segue são as minhas respostas para uma entrevista no YouTube via Itália, canal da La Societa ‘dello Zolfo (@la_societa_dello_zolfo), dia seis de junho de 2024, disponível na íntegra no canal. O objetivo da entrevista foi apresentar a Quimbanda para ocultistas italianos (e europeus de modo geral). Como as perguntas são relevantes também para um público brasileiro, decidi fazer uma versão escrita das respostas, completando a entrevista para o YouTube com detalhes que não me aprofundei ao vivo. 

Vou dividir toda a entrevista em postagens individuais para cada pergunta no blog. O propósito disso é criar postagens com textos pequenos ao invés de uma postagem apenas com o texto extenso, com mais de 40 laudas.

5. Como começa uma jornada na Quimbanda? 

Existe um ditado na Quimbanda que diz assim: o segredo da Quimbanda é o segredo. A Quimbanda é um culto brasileiro de mistérios, tal qual eram os antigos cultos de mistérios na Grécia. Exu Pantera Negra, uma vez indagado sobre os mistérios guardados pela Quimbanda, disse: mistério é um fundamento que só o silêncio sabe dizer. Este silêncio, no entanto, não faz referência a palavra falada, mas ao contrário disso, trata-se do segredo religioso. Os mistérios da Quimbanda são os segredos religiosos, os fundamentos que jamais são revelados aos profanos, i.e. os não iniciados no culto. 

Como um culto brasileiro de mistérios, a Quimbanda exige iniciação. Esta iniciação confere ao iniciado, a partir de então um kimbanda, acesso e comunhão com os Gangas, as divindades da Quimbanda, em tempo queridas ou temidas, a depender do tipo de acesso e ancestralidade de cada um. Na Grécia antiga, considerava-se que um iniciado nos Mistérios era mudo para o mundo. O substantivo mystéria – e outros cognatos como myêin (iniciar) e myêisthai (ser iniciado) – deriva da raiz *mu – (presente no latim mutus, que derivou no português mudo) – que significa fechar. O iniciado nos Mistérios era àquele que mantinha os lábios fechados, portanto, mudo para o mundo. De igual modo é a Quimbanda, cujos mistérios são mantidos em segredo por seus iniciados. 

A iniciação na Quimbanda, por outro lado, é catabática. Seus mistérios são àqueles do Submundo, tal qual os antigos cultos familiares da cultura greco-romana e os mistérios órficos, onde a catábase exigia a purificação da alma para entrada no Hades. A iniciação na Quimbanda, portanto, constitui na abertura dos portões do Inferno – o Reinado do Chefe Império Maioral, o Diabo – para alma que é iniciada. A Revista Nganga No. 10 aborda introdutoriamente este tema. 

Outro ditado da Quimbanda é: a Quimbanda é tradição e tradição se transfere por transmissão. Isso significa que a Quimbanda trata-se de uma força mágica transmitida através de um ritual de Iniciação. A premissa fundamental é de que no escopo da tradição, há indivíduos capazes, os tátas e mametos (i.e. os mestres pai e mãe das famílias de Quimbanda), treinados no ofício de transmitir a corrente mágica da Quimbanda, versados na arte da feitiçaria e na corporificação dos Gangas da Quimbanda. O termo iniciação acima aparece com letra maiúscula para indicar que a transmissão não ocorre somente por meio do ritual de iniciação, mas fundamentalmente por meio da relação iniciática que se estabelece entre o mestre e seu discípulo. Se podemos classificar em uma palavra a qualidade ou o tipo de àṣẹ transmitido pela Quimbanda Nàgô, o termo ideal para designar essa qualidade é progresso. Táta Kilumbu diz: a Quimbanda Nàgô é uma Quimbanda de progresso. Os fundamentos da Quimbanda Nàgô têm como finalidade fundamental levar progresso para a vida de seus adeptos. 

Como o termo indica, é na iniciação que a vida de kimbanda começa. A parir da iniciação ocorre uma evolução gradual na hierarquia do culto, acompanhada de desenvolvimento mediúnico equivalente. Uma jornada que pode ser dividida em quatro etapas (graus) mais ou menos universais, como a fórmula mágica do espírito tutelar: Noviço (batizado), Kimbanda (iniciado), Nganga (sacerdote) e Táta-Nganga (mestre).




VOLTAR